terça-feira, setembro 19

O trecho - primeiro ato


“Falo assim com saudade, falo assim por saber.
Se muito vale o já feito, mas vale o que será
E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir"

“O que foi feito de Vera", de Milton Nascimento e Fernando Brant



Para começar tenho que explicar como se chega. Vamos lá então.

Saindo de Uberlândia sentido Prata. Estrada de chão. Asfalto só depois da ponte do rio Tijuco. No posto Pratão tomo rumo a Frutal mas logo viro para Campina Verde, asfalto e bom, dura pouco.

Pastel de gueiroba com refrigerante e toca em frente.
De Campina Verde segue-se para Honorópolis, estrada boiadeira, chão puro, estreita, cinqüenta e quatro mata-burros contatos dezenas de vezes.

Ainda no chão ruma-se para Iturama. Descanso, pouso, seguir só no outro dia, bateu cansaço e o caminho ainda é bravo.

Próximo destino Monte Alto, hoje Alexandrita – uma pena nome tão bonito, mudaram, pensa só –, até Estrela da Barra, lá adiante, virou Vila Triângulo, o poético virou geométrico.
Porteirão virou União de Minas.

Pega estrada de chão, demora, chegamos à vila Carneirinhos, hoje emancipada, virou cidade, miudinha, miudinha, mas estranhamente agradável, bonita.
Toca a correr.

Passa o pé de galinha, o buraco do chinês; erosão gigante, voraz, sempre com fome come terra, enfeia, destrói tudo à sua volta.

Corta córregos e veredas, guinada à esquerda, alguns curtos quilômetros. Chegamos. São Sebastião do Pontal. É aqui que tudo começa.

Só um recado: para fazer o trecho descrito eram gastos dois dias de viagem, distância 380 km. Uma parte de 90 km, nas águas, consumia até 10 horas, quando dava de chegar, outro caso era ficar fincado em atoleiro de terra massapé, terra de cultura da boa. Aí a chegada a Deus pertencia.
Vai saber. O ano? Isso era 1982. Logo ali.

segunda-feira, setembro 18

Contos para anjos

Contos para anjos

Flor de pitanga


Passo ligeiro, pé de vento.
Deixo cheiro - flor de pitanga.
Tamanha florada, o chão branco de miúdas pétalas.
Cheiro doce, lembra infância, lembra um não sei aflito de vontade de lembrar.

As abelhas em zumbida algazarra carreiam pólem dourado, tropel alado.De minha janela, céu ainda lusco-escuro de alvorecer tardio, as vejo no eterno indo sem vir.

O chão branco de miúdas pétalas, caminho flor.
Passa moça,
passa amor.
Só não passa, essa fica, latente, constante, indefinida
só não passa essa estranha indescritivelmente vazia dor.

William H. Stutz
Setembro 2006


Foto:
Autor desconhecido, qualquer informação favor escrever para
whstutz@gmail.com

terça-feira, setembro 12

Saci de Lia II


Espia Lia, logo ali.
Espia Lia, atrás da moita, no mato logo ali.

Lia espia, olhos de falcão apura e vê.
Saci veio de longe só para ver você

Saci viagem, nem de carro nem de bonde,
só, veio de longe.

Veio te ver Lia, veio vento, sopra e some
Se assusta fácil, teme o homem.

Espia Lia olha o pererê, veio de longe Lia só para ver você.

Não Lia apenas como olhos não.
Espia Lia, espia com o coração.

William H. Stutz
(para Lia Falcão)

segunda-feira, setembro 11

Dia do Médico veterinário



Nos dias 9 de setembro ao longo da história da humanidade ocorreram importantes e curiosos fatos e feitos. Relembrando alguns deles cronologicamente:

1897 - O Centro Científico de Cuzco é fundado no Peru.
1901 - Morre Henri Marie de Toulouse-Lautrec, pintor francês.
1944 - Os comunistas, com o apoio do exército soviético, dão um golpe de Estado e implantam a ditadura na Bulgária.
1956 - O cantor Elvis Presley aparece na televisão americana, em cadeia nacional, pela primeira vez.
1971 - John Lennon lança a música Imagine, um dos discos mais importantes de sua carreira solo.
1976 - Morre o líder Mao Tse-tung, na China, aos 82 anos. Ele transformou o país em potência mundial.
1995 - Cerca de 300 mil jovens de 36 países participam do encontro do Papa João Paulo II com a juventude, no santuário italiano de Loreto, em favor da paz e da dignidade humana.


Pois é justamente em 9 de setembro que se comemora o dia do Médico Veterinário.

Quem é afinal esse profissional? Às vezes envolto em pura mística por seu amor aos animais, às vezes desconhecido pelas gentes em função de tantas ações que desenvolve.

Ocuparíamos com certeza todo o espaço do nosso Jornal Correio para descrever mesmo de forma sucinta as inúmeras facetas do trabalho desse profissional. Seja atuando em consultórios a clinicar pelo bem de nossos pequenos animais, seja nas pesquisas básicas e de ponta, seja em defesa permanente de nossa fauna,de nossos tão perseguidos e ameaçados bichos silvestres, defendendo nosso ecossistema. Ainda, atento ao controle das centenas de doenças que atingem os homens através do contato sem comedimento com algumas espécies animais, zelando permanentemente pela qualidade de nossa comida, alimentos que estão, ou deveriam estar todo dia à mesa de todo brasileiro, sem esquecer, é claro, da produção de proteína animal. O que seria de nossos rebanhos sem o médico veterinário?

A estes abnegados protetores tanto da saúde animal, e também, sempre incógnitos, anjos da guarda da saúde humana, da saúde do planeta, rendo justa homenagem.

Aos colegas Médicos Veterinários parabéns por nosso dia. Continuemos sempre a lutar por nossos ideais e metas, e acreditar que tudo, com trabalho, fé e amor pelo que fazemos, é possível.

Continuemos caros colegas, a exemplo do histórico encontro no santuário de Loreto, a buscar e lutar por todas nossas vidas, com esforço e desempenho profissional na busca da paz e da dignidade humana.


William H. Stutz
Médico veterinário sanitarista
CRMV MG 1902
Uberlândia – MG

terça-feira, setembro 5

Seda


Era um bichinho miudinho e não entendia a que veio.
Ficava o dia todo vendo seus iguais roerem folhas de amoreira numa tagarelice muda, todos a mastigar tenras e verdes folhas.

Tempo ido tocavam todos a se enrolar em casulos finos lindamente decorados de brilhantes fios prateados. Crisálidas únicas, perfeitas, iguais.


Por força de jejum voluntário atrasava seu curto ciclo.
De ninfa queria ser borboleta. Seu destino era voar. Queria o céu.

Observava que seus irmãos eram levados embora cedo, assim que morada prateada construíam. Nunca os viu de asas abertas a secar em preparo para vôo de liberdade.

Abandonou as folhas, alimentava-se apenas dos frutos, púrpuras e doces amoras. Quando por fim lhe veio o sono encapsular, teceu turmalinas, fios violeta-púrpuros como salsifis deslumbrantemente mágicos. Sua seda de tão pura e diferente cor passou despercebida das humanas mãos escravizadas pelo hábito, e em bela manhã rompeu fagueira. E na mais linda das violetas borboletas se transformou. Partiu.

E os homens mais uma vez, mergulhados em daltônica ignorância, presos em sua cobiça e mesmice, deixaram escapar por entre os dedos oportunidade única,rara jóia , a preciosa seda de um majestoso e único violeta.

William H. Stutz
Setembro 2006

segunda-feira, setembro 4