segunda-feira, novembro 4

Deus existe?

Deixar de acreditar em Deus

Pode parecer amargura, acúmulo de tristeza e decepções. Pode parecer chão perdido. Agulha de bússola não acha meu norte magnético, nem emocional. Pode parecer um monte de coisas e um monte de coisas é. Olhos sem brilho ofuscam o mais belo nascer do sol. Dias atrás, deitado em rede, noite em claro passando a vida a limpo, do nada, em esplendor, o sol me aparece preguiçoso. Não consegui ver poesia ou encanto maior. Normalmente, ficaria a admirar os primeiros raios entre árvores, ganharia o dia. Banal demais, me pareceu desta vez. Todo dia a mesma coisa. Chatura. Tanto faz a Kepler e suas leis ou Galileu atormentado pela inquisição. Passarada começa a cantar. E daí? Passarinho foi feito para cantar o mesmo e repetitivo gorjeio, dia após dia. Não canta para nós. Canta a procurar fêmea e perpetuar seus genes.

Estou mais propenso a me apegar ao caos determinístico de Einstein e Langevin.

Sempre busquei beleza em tudo. Nas insignificâncias de Manoel de Barros, nas infinitudes, suas belezas da natureza. Um paraíso de vida à nossa volta. Meus olhos se tornaram opacos.

Não foi da noite para o dia. Foi a observação. A maldade humana explícita. Roubos e desvios de dinheiro que deveria ser aplicado em saúde e educação. Fome e miséria por toda parte, enquanto alguns se banqueteiam até implodir. Crianças morrendo envenenadas por bichos por falta de assistência e negligência médica. Os que acreditava bons, altruístas, humanos, deixando-se corromper pela ganância, pelo dinheiro. Guerras, desamores.

Distancio-me cada vez mais da raça humana.

Armas químicas na Síria eliminam com dor inimaginável inocentes civis, crianças, mulheres e idosos. Jovens com uma aquarela de vida por vir, queimam em chagas abertas garganta abaixo. Morte brutal. Sofrimento. Senhores e senhoras do mundo, da guerra, discutem se devem tomar atitude. Alguém resolve espionar todos. Paranóico povo em sua solidão e isolamento

Sempre acreditei na paixão eterna, no amor sem fim. Se alguém mais caiu nessa é hora de reconstrução. Rever dogmas, inverter paradigmas. O amor aqui não existe.

Alguém disse que Deus criou aqui um experimento e nunca mais voltou.

Se Ele não acredita na sua criação, me dê um motivo para acreditar Nele!?

Ah, as religiões. Outra perversa invenção humana. Cada uma com sua certeza absoluta de que só através dela se chegará ao almejado paraíso. Assim sendo e se tantas religiões existem, vários deuses devem estar de plantão. Ou desconectados. Quer Deus? Procure no Face, no Twitter.

Dirão que é questão de fé. Então, ao mesmo tempo em que deixei de acreditar em Deus, também perdi a fé. Um pequeno substantivo feminino, definido como “adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro”.

A vida um jogo. Sem regras ou manual de instrução. Os tropeços nos desgostos vão se acumulando de tal forma que o fardo se torna pesado demais a suportar. Recorre-se a Deus e ele, infalível, não dá as caras. Sem historinhas de anjo retirando água do mar com dedal e jogando em buraco de areia com intuito de secar o mar. Não cola mais.

Ando amargo. Penso no reencontro com o Altíssimo e rezo, exatamente, rezo em conversa com Ele, para tentar entender tamanho desprezo divino.

Converso como se conversa com um pai. Amargura e dúvida.

Amargo? Amargo é jurubeba. Cansei. Agora Serei ateu, graças a Deus.






Publicado Jornal Correio em 3/11/2013

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